sábado

o dharma, o riso, a cloaca, a mentira

a mulher sentada sobre a bergér azul
suas grandes tetas erguidas pelo espartilho
o camafeu dos fins do XVIII
a pele alvíssima

                       compreenda disse-me
é misteriosamente cômica a vida

e uma fumaça insuspeitavelmente roxa de suas narinas

tu brincarás! eis a única regra

e rimos e rimos e rimos estridentemente
girando vertigens em nosso entorno
transformando corpos, mutando matéria

a mulher tornada íbis com o bico limpava a cloaca demonstrando grande sabedoria

eu tornado babuíno
mentia

quinta-feira

inocência

há coisas terríveis sobre a terra
há bocarras perigosas
há curvas de espalhar tangentes
há buracos aromáticos dos quais não se pode sair
                                                     não se quer sair
                                                     não se pode sair
e há meninos de quinze anos
e há meninos de quinze com corpos de doze
e há meninos de quinze com corpos de doze pelos quais nos apaixonamos
e há o pior
o extremo além
o insuportável
há aquilo com que não podemos lidar
e reconhecemos nossa desgraça
e antevemos cárceres e maledicência
e nos perdemos
porque há meninos de quinze com corpos de doze
de pequenos pezinhos e olhos estrábicos
pelos quais nos apaixonamos

e há desses que nos correspondem