domingo

fazer pão para impedir a petrificação do real por leis morais
fazer pão para mergulhar profundamente na imanência: para fazer pão
fumar silenciosamente e deixar venenos transcendentes dissolverem-se no ar
fumar silenciosamente
varrer o chão de casa para estar livre da captura dos ladrões de impermanência
fumar silenciosamente
então, aceitar a memória sem medo de ser tragado por ela
lembrar-se de que amou o mistério na forma de um róseo talibã e que o mistério te amou desde o negrum dos olhos dele
cozer aromas n'água & bebê-los
desprezar vampiros, exorcizá-los todos
dançar-se tão curvadamente que Inlá se apiede de sua cabeça e aceite apoiá-la
dançar-se
picar salsinha atravessado de paradoxo: de seres e não-seres num só bloco atemporal
estar completamente apaixonado, arrebatado pelas pequenas coisas
& esperar o retorno do nunca igual, apaixonadamente

terça-feira

não por vítreas clarezas
& as durezas que as fazem
não pela corôa, o cetro, a espada
não pela filiação, maternidade ou zelos que tais
não pela inteligência
não pela arritmia implícita dos viventes
nem pelo amor, nem pelo gozo, nem pela dor:
só engendro um eu pelo fascínio da borda

sábado

saídas

vou sussurrar a palavra mágica "saídas" até a dissolução completa das obstruções neuróticas
vou entoar cânticos de radical afirmação da vida
vou promulgar vitalismos assassinos
& repousar na velocidade absoluta onde nada é capturado
vou me banhar da Vida intolerável para os organismos
& multiplicar as linhas de fuga para todos & tudo
vou descobrir no som das letras V e S um dharma secreto que dissolve obstáculos
eu que venho para beneficiar os seres, juro jamais fugir da possibilidade de fuga