sábado

forianópolis, madrugada

eu lambi a cocaína de meu amigo sobre a carteira negra na obscura noite antes que eles chegassem
& estive nas mãos da polícia que nos ameaçava com filigranas legais
eu estive na boca da grande babilônia
um cigarro na algazarra do túnel mesmo de madrugada a ele que ecoou cantando o inalcançável
eu caí bêbado e acelerado no centro da perdição dela, Babilônia de amores tintos
eu me encontrei com ele, senhor dos caminhos, negro homem atravessado de potências antigas
           fora forte
           o tenho visto
           altivo altíssimo homem negro de musculatura rara
           assustador já fora
           ora o magro balbuciante permeabilíssimo corpo loquaz de linguagens proto&desumana
mais um cigarro
o incompreensível dito me exigia um outro & uma benção
laroyê!
eu pedi licença às prostitutas e aos homens cucetas tornados putas travestidas
eu a vi descendo do carro e desnudando-se arrumando o cu para a próxima investida
eu estive entre os seres
& os amei

domingo

minha senha: walt whitman

sempre quis abraçá-lo e dormir em seu peito e chamá-lo de avô
eu teria uma barba que é a tua barba
os meus olhos também seriam essa nuvem, esse poço
eu deitaria na grama e contemplaria os céus como quem compreende os céus
seria suave e teria epifanias sexuais com garotos tão jovens e não lhes roubaria o viço, nem corromperia a inocência de seus corpos
eu seria inocente & sábio e cultivaria rosas, hidrângeas e lilases
haveria musgos nas pedras perenemente, apesar do sol que sempre seria amarelo
fumaríamos, avô, nossos cachimbos imensos e a fumaça contaria-nos tudo o que nossa linhagem viveu
eu compreenderia a fumaça e estaria sempre envolto em uma atmosfera de melancolia livre de tristezas
eu seria alegre & sóbrio, meus gestos seriam discretos e profundos e nunca tropeçaria em nada
não haveria obstáculos para os afetos
& o mundo e eu nos afetaríamos delicadamente
gratuitamente