terça-feira

Elogio ao pequeno Bruno, da cidade de Santos

                                                                                      Licença peço a Apolo Musageta,
                                                                                      que da mais bela das divinas filhas
                                                                                      de Zeus e Mnemósine nascidas
                                                                                      convoco agora a companhia.
                                                                                      Ó pequena cujos pés beijados
                                                                                      por Amor a presença faz-nos rubros
                                                                                      e com desejo tocamos nossa lira,
                                                                                      ó Érato, ajuda-me a cantar o Bruno!

elogios a Bruno
eloqüentes elogios a Bruno
cuja elasticidade anal é exuberante

elogios a ele
de alvíssima pele
e delgado corpo em que tudo se imprime

elogios se somem
ao que não tem vergonha
e tempera minhas noites com delicadeza & perversão dos costumes

eu canto tua beleza
de coxas imberbes & brancas
canto o traço de tua forte panturrilha em teu corpo muito magro

eu canto a auréola
de teu peito indestacado de teu tronco
e que aceita a crueldade dos fixados numa fase oral tardia

eu canto tua falta de ciúme
eu canto tua alegria leve & delicada
mesmo quando diz mija na minha boca, macho

um viva a teu caráter leve
que do patético ao suabilíssimo carinho
passa através dos ritos agonísticos ditados por Eros embriagado

um viva ao teu reto
que é tão limpo e sabe reter esperma
e transforma-se num lago quando a ele retorno enrijecido

um viva a teu reto & cu
que ainda que nele eu meta inteiro o braço
a elasticidade incomparável restaura-lhe os ares virginais

um viva ao teu bom gosto
um viva a tua boa suave conversa
um viva a tua predileção por contar-me estórias com meu pênis em tua mão

elogios a Bruno
que é jovem, belo, bicha & meu
eloqüentes elogios a Bruno da cidade de Santos

sábado

o que Ana Paula provoca em mim quando racha lenha usando um vestido que revela os contornos de seus quadris

à Ana

de um lado
a seda carmesim sobre o veludo azul turquesa
de um outro
um jarro de prata de 1749
mais outro
a crisálida silente imperscrutável
mais lado
uma luva, uma faca, um dente humano, uma taça
ainda outro
um menino seminu de olhar flamígero
no centro frágil −
oscilante miríade de dobras dos milespaços
contendo-se a si mesmo numa vaga do possível −
um índigo hipopótamo derrama a lágrima diamantina

Por Ulisses, navegante

por Maria

Esperei por você a tarde toda
Você não vinha
Você não chegava nunca
Eu me banhava de suor e melancolia
E você não vinha, não vinha nunca
A tarde toda, nunca

Então teci um porvir para nós dois
De cumplicidade
De olhar em silêncio
De desejo incontido
Bordei em letras cor-de-laranja-madura                            
                                                      FELICIDADE
Pensando no cheiro antigo de seus cabelos

Espero ainda
Espero mais que Penélope
Sem o desfiar noturno
Entanto
Teço um manto
Maior do que o mundo

A Gata

À Bernadete, felinófila. 
Veludo –
o ludo dela, o pulo –
sua pata apara o som
no muro.

segunda-feira

eu, gato


Par délicatesse
J´ai perdu ma vie.
A. Rimbaud



par délicatesse j´ai ne pas perdu ma vie
feliz gato
fui adicionado de graças
somadas seis à antiga, indelicada
por delicadeza, com delicadeza
essas sete espraiadas em meu corpo
são sempre as sete bem amadas:
Bernadete, Erasmo, Arthur
Rafael, Rachel, Amanda
& Pedro
sete vidas vigorosas, delicadas
suavemente roubadas