segunda-feira

de tres poetas místicos com sexos túrgidos

me deu saudade dela, Adélia

eu a amei de um jeito louco

foi anos atrás

mais de dez ou uns quinze

amei de rolar lágrimas

-- a tristeza de ser eu --

tristeza funda de tesão e santidade

tristeza dela ser eu

de também ver meu marido limpar o peixe

e amar a coisa prateada no ar

e também fui catequista

sim, fui Adélia

eu era ela

num lugar em mim a encontrei quando li

Ó Deus, não me humilhe mais
com esta coceira no púbis.

ou

Só melhoro quando chove.

ou

Da vida quero a paixão.

ou

Ninguém me tortura, pois desmaio antes.

ou a que gosta um meu amor

Os moços tão bonitos me doem,
impertinentes como limões novos.

e a cultivei

e fui

e assim passou, sem passar

porque eu Adélia, visitada, conhecida, fui para sempre cartografada no Atlas das afecções minhas

e assim, digamos, passou

virei poeta vociferante

fui tomado pelo espírito de paixões desconhecidas

acontecimentos anais

e uma série longa de visões alucinógenas, claras como a luz do dia branco

nesse tempo tornei-me Ginsberg

e o espírito dele desceu sobre mim

e fui habitado

e meus olhos se tornaram aqueles mesmos olhos místicos & gays de Nova Iorque até Os Anjos

sim, mesmo até os anjos eu sou Allen

quinta-feira

no corpo do menino mora uma flor

não me cansei desse mistério

ainda que o tenha visitado noites sem fim

não me cansei desse mistério

não o conheço

permanece meu espanto a cara de espanto do menino alargado

não, eu não conheço esse mistério

e mesmo quando o rosto imberbe sorri com a feição antiga da ninfa do Peneu que na Grécia bebi sedento

mesmo quando vejo a mesma face            outra vez

esse sorriso-convite sacríligo & sagrado de inocência perversa

esses lábios abertos esses olhos brilhantes de felino noturno

esse mesmo antigo infinitamente visto sorriso-convite que termina num "ah" longo que é de gozo mais do que de dor e é de dor e nunca conheço como se insinua do cu à boca num instante e os olhos giram e a noite é a mesma noite eterna de esforços atléticos, delicadeza, aromas mais rubros que mucosas

e os olhos

e os gemidos

os mesmos, exatamente os mesmos infinitamente visitados

e teu prêmio branco líquido & abundante

no rosto como copa aberta a boca e lustral derrame

infinitamente visitados

e eu não conheço

o semprevisto

e eu não conheço

o semprenovo olho do gozo