segunda-feira

de tres poetas místicos com sexos túrgidos

me deu saudade dela, Adélia

eu a amei de um jeito louco

foi anos atrás

mais de dez ou uns quinze

amei de rolar lágrimas

-- a tristeza de ser eu --

tristeza funda de tesão e santidade

tristeza dela ser eu

de também ver meu marido limpar o peixe

e amar a coisa prateada no ar

e também fui catequista

sim, fui Adélia

eu era ela

num lugar em mim a encontrei quando li

Ó Deus, não me humilhe mais
com esta coceira no púbis.

ou

Só melhoro quando chove.

ou

Da vida quero a paixão.

ou

Ninguém me tortura, pois desmaio antes.

ou a que gosta um meu amor

Os moços tão bonitos me doem,
impertinentes como limões novos.

e a cultivei

e fui

e assim passou, sem passar

porque eu Adélia, visitada, conhecida, fui para sempre cartografada no Atlas das afecções minhas

e assim, digamos, passou

virei poeta vociferante

fui tomado pelo espírito de paixões desconhecidas

acontecimentos anais

e uma série longa de visões alucinógenas, claras como a luz do dia branco

nesse tempo tornei-me Ginsberg

e o espírito dele desceu sobre mim

e fui habitado

e meus olhos se tornaram aqueles mesmos olhos místicos & gays de Nova Iorque até Os Anjos

sim, mesmo até os anjos eu sou Allen

Um comentário:

deivid junio disse...

ainda repito: {essa saudade é} de doer num gozo demorado, pedro. lindo.