quinta-feira

se o poeta viesse de minas

e se de mãos dadas chafurdarmo-nos nas águas estendidas da preamar?

e se eu lesse, sob um tímido sol de nem primavera, na palma da tua mão uma vida adicionada de graças?

e se nós contássemos histórias do tempo em que éramos anjos e o mundo não girava em torno de nossos paus?

(você ainda não sabe de quando eu mergulhei na pedra e rachei minha cabeça...

nunca lhe disse ao ouvido quanto tempo durou minha virgindade...

nem que fui apóstata...

nem que sou sádico...)

e se eu lambesse dentro do teu olho esquerdo sem sentir nojo?

e se eu dissesse?:

                              esse menino de pele castanha

                              esse de olhinhos pretos

                              esse poeta de coxas de fauno

                              esse é um meu amor

e se eu sorrisse quando você se espreguiçasse?

e se chapinhássemos nas águas do mar gelado do sul?

talvez se secaria a lágrima preta que ganhou o seu retrato

e ele que pintou tuas olheiras seria uma memória quente e doce como o chá de hortelã

e nós, tornados peixes, nadaríamos, silentes & amantes, no ventre da estrela da manhã

2 comentários:

Graça Carpes disse...

Pedro, teu espaço poético é.. fantástico, mágico, angustiante, imenso...feito o mar.
Bjo
:)
http://pulsarpoetico.zip.net

deivid junio disse...

o poeta vai.