sábado

depois do dilúvio

quem sou eu na noite perdido

o altivo sublunar tarado?

o horizonte despeja relânpagos sobre o mar negro

Iansã ri de mim

Iemanjá chora por mim

vagabundo ardente cego louco de desejo

tenho vontade de odiar Vinícius

me lembro do elástico Bruno da cidade de Santos

me lembro do intocado delgado moreno Bruno do Espírito Santo

me lembro do perfume do perfeito garoto do carro vermelho

sinto dores nos braços

na cabeça um cabaço rompido constantemente

Krisna sorri docemente para mim em perdição

o rapaz de longas tranças no queixo me pede um cigarro que não tenho

me manda tomar no cu

digo amém Jesus, no one curse who Jah bless

o ras sorri e pedala sumindo na boca preta da noite grande

a cidade está lavada, ainda há pontos de alagamento

um casal copula num banco da Praia Grande de São Francisco do Sul do norte do estado de Santa Catarina

eu sorrio enquanto o rapaz negro tenta ocultar num amplexo a nudez branca da mulher que o recebe

a beleza simplória do amor deles ameniza completamente minhas maldições à heterossexualidade

no one curse who Jah bless, man

um gambá expõe seu rabo bicolor em meu telhado

depois do dilúvio sinto sede de companhia

não tenho pena de ninguém e estou completamente compadecido de todos & todos em mim

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