quinta-feira

Adonai

em um treino de pilates, outra vez obtive a visão beatífica

meu corpo respondia aos comandos do treinador ali onde eu não estava

porque eu estava contigo

tu me arrebataste num ligeiro torpor

e foste para mim uma margarida solitária na campina

então uma violenta criança dórica

finalmente um sapo com cara de flor

ó, meu amor, meu amor, como te amo

outra vez revelaste-te como um sapo com cara de flor

e meu ser tremia de desejo & alegria

criança sapo flor

e tu me consumias aos goles e urinavas a loucura dos santos através dos éons

sapo cara de flor, criança dourada

e foste mais longe ainda e me roçaste a pele com a tua

eu não existia, não era nada

ao teu toque, meu amor, eu não era nada

criança sapo flor

então revelaste o que jamais houvera visto

por um gesto caprichoso eu vi, sim, em verdade eu a vi

tu me mostraste tua língua azul

tua língua era ainda mais bela que a ereção de uma criança

tua língua azul mais que o céu de abril de minha terra

tua língua era a beleza do mundo

era o langor do sexo e o torpor de todos os vinhos

criança sapo flor de língua azul

tua língua era doce como o primeiro mênstruo de uma pequena núbia de tetinhas empertigadas

tua língua era tudo que era primeiro

tua língua era a surpresa do esperma na mão de um menino trácio que se descobre o fauno da montanha de cobre

meu amado, meu amor, meu sapo cara de flor

eu sou teu vate arrastado para teu mundo

e porque te vi, te vejo em todas as coisas

te vi na baba do cão aleijado quando se arrastava e no suor olorífico do trabalhador sob o sol a pino

te vi na lágrima da mulher louca que se fustigava na beira do mar

te vi na urina dos bêbados, nos sucos dos tolos, nos gozos raros das putas do cais do porto

e porque te vi e te vejo sempre, sou glauco & rubro

como as parreiras tuas de vinhas maduras

e porque te vi, que direi aos homens? que dirão de mim?

serei para sempre louco diante da assembléia deles

porque te vejo em tudo e em todos te vejo

estou condenado a exibir minha grande saúde

criança sapo cara de flor de língua azul

por tua graça eu sou a grande saúde

serei para sempre maldito para tudo que está morto: eu sou tua grande saúde!

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